24 setembro 2008

O ACORDO ORTOGRÁFICO EM PORTUGUÊS CLARO

.
Quem foi alfabetizado até 1971 certamente lembra de alguns acentos imprescindíveis como, por exemplo, o circunflexo do advérbio "tôda", que tinha a importante função de diferenciá-lo do substantivo "toda", com o "o" aberto. O que você não lembra, ou melhor, jamais soube - a não ser que seja um daqueles gramáticos responsáveis pela mudança ortográfica global da língua portuguesa de 1943 - é que "toda" é um passarinho australiano que até os zoólogos locais desconheciam completamente.

Isso explica o espírito da tal mudança global, mas nem de longe justifica a abolição de três letrinhas "supérfluas" do alfabeto. Afinal, se elas foram julgadas e condenadas porque podiam ser facilmente substituídas pelo V, pelo I e pelo C, por que cargas d'água ainda somos obrigados a usar S e X com som de Z, X e SS com som de C e o diabo do C cedilha? Por falta de opção eu juro que não é.

Mas, enfim, são águas passadas: em 1971 os novos gramáticos decidiram reformar a reforma dos antigos gramáticos, libertando-nos da maior parte dos acentos diferenciais e daquele acento grave dos velhos cafèzinhos e das palavras terminadas em "mente".

De lá pra cá, foram trinta e sete anos de sossego. Tempo mais do que suficiente para que até eu aprendesse a escrever de maneira decente. E agora vai ficar melhor ainda, porque os novíssimos gramáticos, desta vez com apoio da comunidade lusófona, decidiram reformar a reforma dos novos gramáticos e transformar esta nossa língua tão simples em algo mais fácil ainda.

Começaram pelas letras supérfluas, que agora deixam de ser supérfluas e voltam para o alfabeto. Muito nobre, mas nenhuma providência contra o C cedilha, que jamais esteve no alfabeto embora figure em todos os teclados.

Depois aboliram a trema, o que não faz a menor diferença: tanto a lingüiça como a linguica têm o mesmíssimo valor calórico e quem é dado à delinquencia não vai se recuperar por causa isso.

Também decidiram que "não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas", mas que "as oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis continuam a ser acentuadas". Ou seja: se você conseguir que um adolescente normal compreenda a instrução e aplique a regra, será o meu herói. Com acento.

E que "nas palavras paroxítonas não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem depois de um ditongo, mas se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final ou seguidos de s, o acento permanece". Excelente. O tuiuiú deve estar exultante.

Se por um lado fizeram algumas mudanças lógicas como, por exemplo, eliminar o acento das palavras terminadas em êem e ôo, por outro criaram o álibi perfeito para mal-entendidos, derrubando o acento diferencial entre pára e para.

Pêlo e pelo, tudo bem. Pólo e polo, a gente entende. Mas será que a interpretação de "trânsito pesado para a cidade" é tão óbvia assim?

Mas a gente releva porque, afinal, graças a Deus os acentos diferenciais de singular e plural dos verbos ter e vir permaneceram. Afinal, todo mundo sabe que, do ponto de vista prático, nunca fez a menor diferença saber se é para "parar alguma coisa" ou se é "para alguma coisa", mas sempre foi indispensável deixar bem claro que frases como "vocês vêm comigo" e "vocês vem comigo" têm significados completamente diferentes, até porque uma está certa e a outra está errada. Viu só como esta regra tem sentido?

Isso sem falar no novo emprego do hífen, sobre o qual só vou tecer três pequenos comentários:

1. Tudo o que você conhece hoje por panamericano passou a ser, oficialmente, pan-americano.

2. "Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição", seja lá o que isso queira dizer.

3. "Para clareza gráfica, se no final da linha a partição de uma palavra ou combinação de palavras coincidir com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte". Ah bom! Agora tudo ficou muito mais claro, pra mim.

Maluco mesmo era o Mário de Andrade que, há 64 anos, fez a seguinte declaração: "Acredito que a questão ortográfica tem contribuído muitíssimo para a desordem mental no Brasil".

Então é isso?

23 setembro 2008

SEXO, DROGAS E ROLLING STONES

Primeiro você vê o filme. Depois, a Pereira conta o que está achando do livro.

09 setembro 2008

Sable Horses

.

A Ilha Sable, ou Sable Island, é uma pequena ilha arenosa de apenas 34 km² de superfície. São cerca de 42 km de comprimento por 1,5 km de largura máxima, e sua maior altitude não ultrapassa os 30 m. Está situada no Oceano Atlântico Noroeste, a cerca de 180 km da província canadense de Nova Escócia. Tem a forma de um longo cordão dunar, resultado da constante migração das areias que são empurradas pelos ventos e pelas correntes marinhas.

Na Ilha Sable não existem árvores. 40% da superfície são recobertos por pastos de gramíneas resistentes ao sal e outras vegetações rasteiras, e a abundância de chuva e a baixa evaporação permitem a formação de múltiplas lagoas de água doce.

Localizada sobre uma plataforma continental pouco profunda e com grande quantidade de areia e cascalho rolado, a ilha emerge de um vasto conjunto de bancos de areia em constante mudança, o que torna a zona muito perigosa para a navegação.

Vivem na ilha cerca de 250 cavalos selvagens.

Alguns acreditam que seus ancestrais tenham sido deixados em Sable por um mercador de Boston que jamais voltou para buscá-los. Outros, que tenham sobrevivido a naufrágios e se refugiado lá.

O fato é que, depois de 300 anos de isolamento, hoje eles constituem uma raça: a dos Greenhorses de Sable.

Veja as fotos e filmes feitos por Roberto Dutesco. Além de belíssimos, são uma mostra da doçura e da civilidade que o ser humano poderia ter.


Chasing Wild Horses - Clip 2 of 4 from Roberto Dutesco on Vimeo.


Chasing Wild Horses - Clip 1 of 4 from Roberto Dutesco on Vimeo.


Chasing Wild Horses - clip 4 of 4 from Roberto Dutesco on Vimeo.

08 setembro 2008

Haydn - Concerto nº 2 em Ré Menor - 2º movimento

A Pereira (imagina só que audácia) nunca havia achado Haydn um compositor assim, digamos, brilhante. Até que, há uns 20 e tantos anos, descobriu este concerto sem querer, no Lado B de um Mozart interpretado por Alícia De Larrocha. E está mordendo a língua até hoje.
Simplesmente irresistível o diálogo entre piano e cordas.

Magdalena Tagliaferro

Do início da década de 1970 ao início da de 80, a Pereira assistiu a praticamente todas as apresentações de Magdalena Tagliaferro em São Paulo. Esta gravação infelizmente não tem data mas, pelo comprimento do cabelo do regente Carlos Alberto Pinto Fonseca, dá apostar que ela estava lá, encarapitada em alguma cadeira do lado esquerdo do balcão ou do foyer.

Já pensou?

Como seria receber o Supertramp Roger Hodgson em casa, especialmente se ele resolvesse tocar e cantar pra você e seus amigos? Pois isso aconteceu aqui em São Paulo e deixou a Pereira rolando de inveja desse rapaz, o Walter!

Vale tudo: a Pereira concorda em gênero, número e grau.

.
O som e a fúria de Tim Maia, biografia deliciosamente escrita por Nelson Motta, vale tudo, mesmo: cada tostão e cada minuto investidos na leitura. E a Pereira, que já tem por hábito descobrir os sons de que mais gosta (no mínimo) uns 10 anos depois que a "moda" acabou, mais uma vez encontrou referências sensacionais. O livro tem até um site que traz todas as músicas que cita. Uma pena que tal site não funcione na plataforma Macintosh.